Poéticas, pesquisa e procedimentos na obra de André Berger

Sergio Niculitcheff, 2020.

Sempre me surpreendo com determinados artistas que conseguem tirar partido de modo criativo e inusitado de procedimentos por vezes ditos como esgotados, apesar de eu estar em contato frequente com a produção artística. Discorro aqui especificamente sobre a obra de André Berger, que faz uso das técnicas de gravura em metal. Esta prática artística desde suas origens remonta séculos de uso, e mesmo assim ele nos mostra que por meio da poética é possível reinventar a linguagem do trabalho artístico.

André Berger apresenta em suas gravuras qualidade formal e domínio técnico na pesquisa com os procedimentos. Esteticamente no conjunto de sua produção a imersão na linguagem apresenta um fluxo de imagens aparentemente inesperadas, as quais se mostram dispersas e desconexas a princípio nos causando estranhamento, entretanto isto é o que torna sua poética singular, estas imagens são atrativas exatamente pelo fator do inusitado. Trabalha com imagens possuidoras de uma fina ironia, são temas instigantes nos quais transita fluentemente nas imagens e temas abordados. Seu imaginário formal é carregado de elementos alegóricos singulares, advindos de reminiscências e associações da memória e paisagens. Este universo fantástico que nos apresenta é prosaico e ao mesmo tempo devaneador.

É perceptível nas escolhas das imagens o uso de uma carga alegórica a qual denota uma aproximação visual remetendo ao universo e à estética do Simbolismo. Outro fator marcante em sua poética é a atemporalidade, um deslocamento das imagens para um “não lugar”, sem referência determinada de presente, passado ou futuro. O artista não falseia a que veio, o assunto principal em si é a própria gravura, com uma preocupação atenta à pesquisa, ao apuro técnico e ao rigor nos procedimentos. A partir das possibilidades apresentadas, André reinventa as narrativas de modo criativo e original, a auto referência da linguagem dentro da contemporaneidade. Nesta produção contemplada é manifesto o recurso da representação e o deleite do prazer no fazer artístico.